Rui Neves da Rosa Natural de Jaguarão, RS, militou no PC do B e PT. Foi demitido em 1964 do serviço público, onde era funcionário dos Correios e Telégrafos, sem motivo e sem processo legal. Formado em Letras, irador de Thiago de Mello, Maiakowsky e Federico Garcia Lorca, foi comerciante e artesão, famoso por consertar bolas de futebol. Publicou livro de poemas “Sedimentos da manha” e deixou outros finalizados. De natureza extrovertida, era animador de encontros sociais e políticos, onde declamava seus poemas comprometidos com a realidade social do país. messe no agosto o vento soprou forte e frio tua voz ficou rude e destemida do rosto do homem na miséria da rua fizeste em ti um canto de revolta as veredas da rua te afundaram vales e viram teu olhar comprometido tua voz ecoou na coxilha e na várzea e fizeste teu canto o dos oprimidos partiste em busca de foices nas lavouras e o trigal balançou espigas maduras punhos cerrados vibram no ar e te seguem para quebrar os elos das correntes haverá mais pão e riso na criança e a paz fecundará o arrozal na safra o homem da terra com olhar de outono sorrirá contigo na festa da colheita Federico Garcia Lorca foi agosto em Granada em Granada de al Andaluz sob o céu ensanguentado que a madrugada insinuara sete balas surpreenderam o peito de Federico sem madrigais na manhã sete balas um só peito uma consciência tranquila de resto a guarda civil sete fuzis sete sombras as clarinetas dos galos silenciaram por sua morte sete medalhas de chumbo pendem-lhe agora do peito por ser poeta de Espanha ah meu pobre Federico só o vento velou teu corpo no teu cortejo sem flores Decisão Convocam-me sentenças para a guerra Aceito e compartilho Instrumento da sinfonia diária Ensaio meu coral constantemente Apedrejando De vozes e canções As relíquias a que celebro culto Semeio gestos de regência Batutas de ceifas e tratores Convoco o homem para entoar o canto Dilacerando a noite Para amor do pão Do beijo Da mesa farta Do sorriso armando rostos Não aceito a pregação da caridade As esmolas desta farsa Como perspectiva ou solução Para o problema estrutural Nem o que disseram a 2000 anos E provavelmente dirão Quando a manhã tumultuada romper Rajadas de agapês Para o trato da terra E construção da vida O homem convocado abrirá eclusas Protestando manhãs Estabelecendo o tempo Onde O servo e senhor Construa o mundo Como o menino que brinca 3e2x2x