Fraudes no INSS: vítimas formariam a terceira maior cidade do Brasil 3e5j6r

Só São Paulo (foto) e Rio teriam população maior do que a cidade dos velhinhos lesados nas fraudes do INSS. 23/02/2016 Foto: Marcos Santos/USP Imagens

As primeiras notícias falavam em 7,7 milhões de vítimas – aposentados e pensionistas lesados com descontos ilegais em suas contas no INSS desde 2019, num total de R$ 6,5 bilhões. 3r544k

Eram extrapolações de dados colhidos por amostragem numa auditoria da Controladoria Geral da União, feita de abril a julho de 2024. Os números finais ainda não foram divulgados.

Na última semana, o INSS manteve a estimativa do prejuízo financeiro em torno dos R$ 6 bilhões, mas reduziu o número das vítimas  para 4 milhões.

De qualquer forma, um número espantoso de pessoas idosas, muitas doentes ou com deficiências,  submetidas a um crime sorrateiro e continuado, algumas com descontos ilegais há cinco anos e sequer sabiam.

Se fosse possível reunir esses 4 milhões de aposentados e pensionistas no mesmo local, eles formariam a terceira maior cidade do Brasil, depois de São Paulo (11 milhões) e Rio (6 milhões), conforme o censo de 2022.

A fragilidade dessa população diante das gangs organizadas na internet é um dos fatores que fizeram explodir os descontos sem autorização.  Com pouco ou nenhum domínio do meio digital, eles são alvos preferenciais.  Se o criminoso vem municiado com informações obtidas dentro da própria instituição pública criada para protegê-los,  muitos deles sequer percebem a ação do golpista.

Alberto Reinaldo Reppold, 91 anos de idade, profissão de óptico, natural do Rio Grande do Sul, é um dos mais de 90% que não perceberam o desconto em sua aposentadoria.

Seu filho, ao tomar conhecimento do golpe do INSS pelo noticiário, conferiu o extrato e identificou o desconto, feito de setembro de 2023 a abril de 2025, totalizando 20 meses de desconto não autorizado no valor total de R$ 1.300,00, sem incluir correção de juros.
No mesmo dia, 30 de abril, a família do aposentado solicitou o cancelamento da adesão à Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (ABRAPPS) por meio do aplicativo do INSS. A filiação à entidade não foi autorizada pelo aposentado e ele nunca foi procurado por ela, nem sabia que tipo de benefícios ou atividades a instituição oferecia. No site da associação, ilustrado com diversas fotos de bancos de imagens, consta que está localizada na avenida Borges de Medeiros, 410, edifício Sulacap, 3º andar, no centro de Porto Alegre, fone (51) 3119-1499 e (51) 997979441, site www.abrapps.org.br. O nome fantasia da ABRAPPS é Universidade da Felicidade.

O aposentado Reppold recorda já ter recebido diversas ligações com ofertas diversas, principalmente de bancos, mas não lembra de nenhum telefonema específico sobre a ABRAPPS.

A família de Reppold documentou o pedido de cancelamento do desconto no aplicativo do
INSS e aguarda ser ressarcida pelo Instituto. Além disso, pretende registrar ocorrência policial e recorrer à Justiça por danos morais.

Outra vítima do golpe é o também gaúcho João Luiz Dieckmann Turcato, 68 anos de idade, comerciário, aposentado há seis anos. Ele conta que não costuma olhar o extrato do INSS “porque não tem muita coisa pra olhar, tá ali só o valor da aposentadoria”.

Um dia, precisou do extrato e ficou intrigado quando percebeu que havia um desconto de R$ 45,00. Isso há uns 18 meses, recorda. Então ele resolveu ver o extrato de outros meses e constatou que estava sendo descontado há três meses. Foi ao banco Itaú, onde recebe a aposentadoria. Ele foi atendido pela gerente
que lhe  disse: o desconto se referia a uma associação que oferecia um seguro, “acho que de vida”. Perguntou à gerente porque estava sendo descontado e ela disse que ele havia autorizado. “Eu neguei, disse que não havia assinado nada; ela insistiu dizendo que eu teria autorizado por telefone; afirmei que não trato nada por telefone, ainda mais assunto bancário, porque só tem golpe”, recorda o aposentado.
De acordo com Turcato, a gerente insistiu dizendo que em algum momento ele havia autorizado. Ele negou novamente e ficou exaltado, “quase disse um palavrão”.
Nesse momento, a gerente resolveu fazer o estorno do desconto. O aposentado questiona “quem é o mais sem vergonha? É o INSS ou os bancos? Eu acho que são os dois. Creio que sejam coniventes”.
Outra vítima do desconto não autorizado é Adeildo Máximo Bezerra, de João Pessoa (PB), jornalista de 68 anos de idade, aposentado há oito anos. Há cerca de oito meses, ao consultar o extrato, percebeu que havia um desconto de R$ 45,00.

Procurou o banco onde recebe a aposentadoria e soube pelo gerente que o desconto era de uma entidade que ele não conhecia e à qual não havia se associado. O funcionário fez o estorno e recomendou que ele sempre olhasse o extrato porque poderia surgir mais algum desconto, feito por outra entidade, porque esse “procedimento era automático”.
De fato, parece haver uma conivência ou, no mínimo, um descaso dos bancos em relação a esses descontos que os gerentes sabem serem comuns e, na maioria das vezes, não autorizados pelo aposentado. Bezerra recorda que “tão logo minha aposentadoria foi aprovada, meu número de celular foi compartilhado com várias operadoras de empréstimo consignado que ligavam oferecendo o serviço”.
(Com reportagem de Márcia Turcato)