Emater lança livro sobre a pobreza no campo p6v4g

Dez dias depois de encerrada a Feira do Livro, saiu uma das obras mais
importantes do ano: lançado na manhã desta terça (26/11) no auditório da
“extinta” Fundação de Economia e Estatística (FEE), o livro de 252
páginas relata a experiência de extensionistas da Emater na execução do
Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais e o Combate à
Pobreza Rural no Rio Grande do Sul.
São seis relatos sobre diversos aspectos do programa criado em 2012,
logo após o lançamento do Bolsa Família (2011), para estudar e amparar
famílias situadas na faixa da extrema pobreza (com renda inferior a dois
dólares por dia). Das 400 mil propriedades rurais familiares, 50 mil
vivem em situação de extrema pobreza, lembrou o agrônomo Luiz Fernando
Fleck.
A tarefa coube à Emater, a instituição público-privada que se dedica a
ajudar os agricultores não protegidos pelo guarda-chuva do Pronaf. A
experiência levada a 250 mil famílias foi um sucesso: ajudou a gerar
renda, melhorou a autoestima, treinou e deu esperança a famílias rurais
“esquecidas” pelas instituições públicas e vistas com preconceito pela
sociedade em geral. O fomento alcançou também indígenas e quilombolas.
O programa deu visibilidade aos invisíveis, disse Catia Griso, do
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural, da UFRGS, que deu
apoio à experiência da Emater. O problema é que as verbas para
assistência técnica rural foram radicalmente cortadas nos últimos anos.
Em 2019 caíram para R$ 173 milhões; para 2020, estão programados R$ 73
milhões num contexto de crescimento da pobreza, aumento da desigualdade
de renda e ampliação da vulnerabilidade social.
O agrônomo Lauro Bernardi, que participou do piloto do Fomento levado a
Fontoura Xavier, o município mais pobre do Estado, com 10,7 mil
habitantes no Alto da Serra do Botucaraí, fez um relato dramático sobre
os efeitos do extensionismo aos miseráveis dos grotões perdidos desse
interior situado a pouco mais de 200 km da capital. A sua conclusão,
transformada em conselho aos colegas da Emater, da UFRGS e do Ministério
da Cidadania (que custeou a publicação do livro), é que não se deve
“subordinar a mitigação às mudanças estruturais”. Em outras palavras, é
preciso botar o pé na estrada e estender as mãos — com métodos
profissionais, criatividade e coragem para superar a burocracia — para
levar um mínimo de cidadania aos que mais precisam.  As pessoas
vulneráveis reagem à chegada das instituições públicas. “Em Liberato
Salzano”, relatou Bernardi, “o Fomento gerou uma dinâmica tal que no
final, das 50 famílias assistidas, 20 tinham construído casas novas”.